Cinquenta tons de mim.




         Desde sempre se sentia destoante do mundo, enquanto tudo era colorido, se sentia cinza, opaca, igual. Não igual aos outros, igual aquela parede suja ali, igual ao cimento dos prédios, como o asfalto antigo. Uma vida inteira se achando cinza, uma vida inteira se escondendo dentro de si, procurando novas manias pra contornar a loucura que ia a dominando dia por dia. O glamour e o brilho do mundo a deixavam cega, desnorteada, perdida em tanta beleza, tudo tão lindo, uma pena essa beleza não estar dentro de si. Até as roupas seguiam aquele padrão. Preto, branco, cinza. Todas as cores básicas, tudo muito padrão, nada que a destacasse. Nenhuma amarelo alegria, nenhum vermelho paixão, só o cinza de uma manhã chuvosa.
          Mas porque não pintar o mundo dos outros? Deixar uma marca nos outros nem que seja cinza, isso seria sua meta, e até certo ponto deu certo sim. Em algum momento da vida decidiu colorir os outros. E por um tempo ela conseguiu! Conseguiu imprimir sua marca, melancólica mas bonita na vida de tantos, um delicadeza cativante ficava na mente de quem a conhecesse. Foi trilhando seu caminho até se deparar novamente com aquele sentimento chato de antes. E agora, o que fazer? Resta pensar. Refletir, tentar entender o que aconteceu.
           O resultado era simples: porque não gostar do cinza? Logo a cor que representa mudanças... Em suas próprias comparações sempre usou exemplos fortes, prédios; tempestades; rochas. Porque não usar em seu favor? Ser neutra, se adaptar. Pra que se destacar, usar de artifícios pra chamar atenção? Seja cinza. Seja pó. Seja chuva. Seja livre. Se reinvente, se aceitar é lindo é precioso, porque não?


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